sexta-feira, novembro 24, 2006

Sem espaço

Qual seria a definição mais correcta para o conceito de “não ter espaço”? Viver entre quatro paredes e não ter espaço para mexer? Ou então estar preso sem poder fazer qualquer espécie de movimento? Concretamente, isto é não ter espaço mas há quem viva confinado e ao mesmo tempo sente a maior liberdade do mundo. O outro lado do conceito é aquele em que se têm todo o espaço do mundo, em que não há amarras nem algemas, não há medo de magoar ou ser magoado, não há satisfações para dar nem para ouvir, isto sim é ter espaço, é ter uma imensidão tão grande de espaço que é impossível de explicar. Mas este outro lado do conceito aos meus olhos não é válido, não mete lógica, só um ser inconsciente e insensível viveria em tal espaço.

No fundo todos nós ao mesmo tempo que temos equilíbrio também o procuramos, é análogo ao facto de “querermos sempre mais e melhor”; com o equilíbrio é diferente, não passa por “querer mais” mas por apenas “ter” ou simplesmente “querer”, o “mais ou o “menos” não se aplica. No fundo queremos viver num espaço equilibrado, sem regras ou leis, sem limites ou barreiras, com toda a liberdade de movimento mas quando por alguma razão perdemos o nosso espaço, procuramos sempre o espaço num espaço diferente.

Eu, tal como muita gente, vivo num mundo em que tenho e não tenho espaço mas com uma diferença: o facto de não ter espaço é razão para muitas sensações e sentimentos. Fico triste por “não ter espaço” porque não tem de ser assim, mete-me raiva o “não ter espaço” porque não deve ser assim, o “não ter espaço” dá-me forças para criar um espaço que nunca criei, o “não ter espaço” dá-me saudade da imensidão de espaço que antes era, grito em silencio por não ter espaço, rio-me com uma lágrima porque não existe espaço, divago em folhas de papel porque não há espaço, este “não ter espaço” é irreal, é utópico, é aquela peça dum puzzle que por alguma razão ficou deformada e agora não encaixa quando antes encaixava sem esforço. O “não ter espaço” é análogo a um cubículo de apenas três paredes em que quando estou virado para um lado tenho três paredes que me envolvem e nas minhas costas não há parede nenhuma; quando estou virado para o lado oposto fico com o mundo todo á minha frente e o cubículo nas minhas costas, e apesar de não o ver quando estou de costas para ele sei que ele está lá. É um cubículo apertado, com pouca luz e sinto que ele está frio, nem consigo abrir os meus braços quando estou dentro dele. Como é que é eu posso destruir as paredes? Como é que eu posso ter espaço de ambos os lados?
É irreal, é utópico…

São essas paredes que têm de ser destruídas, porque há coisas que realmente valem a pena.

Estas são algumas das palavras de uma criança
É assim que se sente uma criança que vive sem espaço…

3 comentários:

Anónimo disse...

adorei o texto!!! acho que a reflexao se adequa bastante a mim...sinto me sem espaço para viver...mesmo sabendo que tenho esse espaço!**

Anónimo disse...

Paredes indeléveis que poderão cair com um simples toque...
Se tudo é irreal, porquê acreditar que lá estão?

Sam disse...

Elas estão lá e apesar de já estar habituado à sua existência, ainda tento mexer-me dentro delas.
É verdade que poderão cair com um simples toque...e forças para isso confesso que não faltam...