segunda-feira, dezembro 11, 2006

Questões de Equilíbrio

Todos nós procuramos sempre algo nesta vida, desde o mais fútil e trivial ao mais significativo e indispensável. Precisamos de nos sentir preenchidos pois essa é a única forma de sentirmo-nos bem. Seja com colecções de carros, milhões espalhados por contas em paraísos fiscais, amores pelos quatro cantos do mundo, uma infinidade de amigos, é assim que preenchemos os vazios que temos mas na verdade nunca estamos totalmente preenchidos e procuramos sempre essa perfeição. Numa dada altura desejamos tudo, e mesmo que esse objectivo seja atingido pensamos sempre que ainda falta qualquer coisa... basicamente “o ser humano nunca está satisfeito com o que tem”.

Sejam muitos ou poucos o ser humano há-de sempre viver com objectivos, uns atingíveis e outros não, mas há um deles que não é inatingível: o equilíbrio. Não se trata de equilibrar os aspectos individualmente mas sim equilibrar a soma de tudo aquilo que temos ou podemos ter; pode ser tanto ter um pouco de tudo ou ter tudo de um pouco e mesmo dentro disto há objectivos mais desejados que outros.

O equilíbrio não passa por “querer mais” mas por apenas “ter” ou simplesmente “querer”, o “mais” ou o “menos” não se aplicam; O equilíbrio apenas existe e quando este começa a desvanecer faz-se por atingi-lo novamente, é como uma busca incessante porque sabemos que tal objectivo é atingível e está ao alcance das nossas mãos. É relativo tal como tudo na vida, varia de pessoa para pessoa, varia de tempo para tempo, hoje o equilíbrio pode ser apoiar uma haste no seu centro e amanha pode ser apoiar essa mesma haste nos seus extremos. Há quem equilibre a sua vida no centro da haste em que tudo é “único”, em que tudo existe sem ter a sua contrapartida ou o seu oposto, existindo sempre aquele desejo de algo diferente e equilibrar a haste nas duas pontas; Há quem equilibre a sua vida nos dois extremos, é como viver duas vidas ao mesmo tempo em que uma é o oposto da outra, ser o mau e o bom ao mesmo tempo, é ter o positivo e o negativo em iguais quantidades para manter o equilíbrio, e quanto mais colocamos a nossa vida num dos extremos temos de a colocar igualmente no extremo oposto senão a haste cai.

O equilíbrio é como a nossa casa: é nosso e de mais ninguém, somos nós que o mantemos e o defendemos, mas são os outros que o destroem, são os outros que fazem a haste tombar, nunca seremos nós próprios a faze-lo propositadamente – não somos capazes de destruir a nossa própria casa. Quando isto acontece é como começar do zero. A vida é feita de desafios e obstáculos incontornáveis, um deles é quando a haste tomba. Nessa altura somos postos à prova por nós próprios, somos testados para ver se somos capazes de voltar a apoiar a haste no seu centro ou então apenas levantá-la e apoiá-la em duas torres nos seus extremos com o intuito de, com o tempo, recriar as forças e voltar a equilibrá-la sozinhos; mas tal como são os outros que fazem tombar a haste existem os outros que nos ajudam a levantá-la, a partir daí o equilíbrio aparece no seu devido tempo.

Qualquer início de equilíbrio começa sempre pelo seu centro. Porquê? Porque é mais fácil, é mais simples, não é necessária tanta força e verdade seja dita, quando a haste tomba qualquer ser humano perde as forças. Com o tempo as forças voltam e se for nosso objectivo co-existir em dois extremos, assim será, mas tal requer muita força.
Somos nós que mantemos o nosso equilíbrio porque ele é apenas nosso mas em certas alturas precisamos de ajuda de outros para manter tal ou então é necessário equilibrar as hastes à nossa volta para que nossa própria fique equilibrada. De certa forma somos egoístas: interessa-nos apenas a nossa própria haste, nem que tenhamos de equilibrar e desequilibrar as hastes à nossa volta, e digo que somos egoístas porque nunca somos/seremos capazes de inclinar ou até tombar a nossa própria para equilibrar ou levantar a haste do próximo.

Os nossos objectivos são criados e esquecidos com o passar do tempo, conseguimos quantificar ou qualificar o que somos capaz de fazer para atingi-los individualmente mas não somos capazes de expressar a nossa força para atingir o equilíbrio. É obvio que mesmo não sendo uma pergunta a frase anterior necessita uma resposta. A resposta podia ser algo simples como dizer que a força que temos para o atingir é a soma da força individual que temos para atingir cada um dos objectivos, mas é muito superior a isso; tal como escrevi no início “há objectivos que não são atingíveis”, são utopias, são sonhos, esses deixam de ser um objectivo, passam a ser um desejo e por isso ficam um tanto esquecidos porque não há forma de lá chegar. Mas o equilíbrio é perfeitamente atingível, está à nossa frente, à nossa volta, ao alcance das nossas mãos e do nosso olhar e é por isso mesmo que somos capazes de fazer por ele coisas que nem se quer imaginamos, É uma força inconsciente que vive sempre em nós, que nos faz sentir mais fortes que os outros, que nos faz sentir únicos.

De certa forma somos egoístas, é verdade, mas mesmo assim pergunto-me: será que somos capazes de nos desequilibrar para equilibrar os outros?

3 comentários:

man disse...

e será o equilibrio algo que tenhamos consciência dele quando ele de facto existe? ou é ilusório? ou é uma percepção que pode estar ou não certa? e a falta dele? não será que a falta de equilibrio é fruto da falta de algo mais importante? questões...questões...

Sam disse...

“Não se trata de equilibrar os aspectos individualmente mas sim equilibrar a soma de tudo aquilo que temos ou podemos ter”, é um conceito abstracto que implica uma série de variáveis. Estamos conscientes dos vários objectivos individualmente, que queremos atingi-los, uns mais importantes que outros, mas não estamos conscientes que ao atingi-los iremos simultaneamente atingir o nosso equilíbrio. É como amor: não tem definição, não o conseguimos definir, mas sentimos a sua existência quando o alcançamos.
A falta de equilíbrio é representada pela falta de algo ou então é algo que temos e não queremos ou que não conseguimos suportar, mas a falta de equilíbrio é, de certa forma, facilmente compensada preenchendo o vazio ou então libertando o espaço que está demasiadamente cheio, e somos nós próprios que tratamos de encontrar essa compensação. Esta difere muito de quando a haste cai: a queda da haste representa um rombo inesperado, algo imprevisto, um problema sem solução ou uma solução inalcançável, implica a perda das nossas forças, implica começar do inicio e construir as fundações, implica a perda ou a falta de uma ou mais peças fundamentais, e de certa forma não seremos capazes de levantar a haste sozinhos.

Anónimo disse...

Andar equilibrado é andar bem com nós próprios! É saber que vamos no caminho certo, ainda que seja apenas nós quem o vemos, aprendi a encontrar o meu equilibrio a partir do momento em que tive conheçimento de que algo assim existia, e que está ao alcançe de todos, apenas depende da força de vontade de cada 1!
Quando ao se nos conseguimos desequilibrar para equilibramos alguem proximo...diria que andei anos a funcionar assim, dar bons conselhos, boas lições de vida de cenas que eu próprio já tinha passado, enquanto que por mim próprio nada fiz durante anos...até..ter conheçimento do equilibrio e...atingi-lo !